domingo, 26 de dezembro de 2010

passageiro

Olhou o cardápio várias vezes em busca do prato mais caro ou mais sofisticado. Hoje poderia gastar o quanto quisesse, ganhou essa noite e seu estômago merecia algo melhor que hamburguer e batata frita. Era uma noite solene. Merecia comer o que nunca comeu na vida, já que só teria essa oportunidade. Afinal, não é todo dia que funcionária pública pisa em um Cantaloup. Queria que seu organismo conhecesse novos sabores. Quem sabe, talvez um terrine de foie gras de pato pudesse dar ao seu corpo bases nitrogenadas e aminoácidos incríveis. Poderia ser, em uma pequena parte do seu corpo, semelhante à uma burguesinha que almoça ali todos os dias. Escolheu um magret de pato com purê de castanhas portuguesas. O prato veio, com um mínimo de comida. Por isso que rico é magro. Não se satisfaz com menos de mil reais em um restaurante como aquele. Mas mil reais é muito, até nas melhores famílias. Porque tudo acaba no banheiro. Comeu. Tinha gosto de alecrim, não gostou. Comeu com gosto, mas ainda estava com fome. Quer saber? Me dá um arroz doce, garçom. O mais simples que tiver, com canela. Agora sim. Nunca mais voltará em restaurante elitizinho como aquele. Preferia o furor de um rodízio por 20 reais. Você come o que quiser e sabe o que está comendo. A carne é carne, não é carne com molho de erva doce e mel francês. Estava pensando nisso enquanto voltava pra casa. Estava enjoada. Cabeça revirando. Parou o carro. E vomitou 231 reais na sarjeta.

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