domingo, 27 de março de 2011

vadiagem

5opiniões
É noite e a sarjeta cheira a lixo.
Lixo, cigarro e espetinho de carne.
Você nunca deseja fazer parte disso tudo, mas sem querer, isso se torna parte de você.
A prostituta que não sente frio na esquina, o dono da barraquinha velha e suja de pastel, o cobrador do ônibus que circula a uma da manhã, nenhum desses indivíduos renegados é diferente de você ou do engravatado desinteressante com quem dividimos o mesmo meio-fio todos os dias de manhã.

Amarguradamente, segurando-se onde quer que valha para não cair com as curvas do ônibus. Uma mão que encosta, um cabelo que esvoaça e você se afasta, como que contaminado. Rejeitar o toque faz parte do seu dia, como se já não importasse também suas passadas largas de quem vai e não sabe pra onde, sua cara fechada como se o sol lhe batesse constantemente nos olhos mesmo à noite ou seu bom dia contido pela manhã.

E é pensando nisso tudo que volta para a casa de madrugada. Não importa a hora, a vida imunda ainda pulsa pelos becos, fétida, com suas mil promessas vãs de liberdade fugidia.
A noite é o mundo dos rejeitados.
 

lacrônico, o espaço das crônicas. © 2010

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