domingo, 30 de outubro de 2011

tupiniquim

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Rodou o LP de Martinho da Vila, saiu sambando pela casa. Todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba. Contaminou-se pelo ritmo, trocou por Jair Rodrigues e foi à janela paquerar. Deixe que digam, que pensem, que falem, deixe isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem? O que tem é que à janela não conseguiu a atenção desejada, quis ouvir a voz de Mario Sousa Marques Filho: reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Achou que o incidente na janela poderia ser bem descrito por Noel Rosa, trocou o LP. E eu pergunto, com que roupa?, com que roupa que eu vou, pro samba que você me convidou. Depois, sem fôlego para sambar, mudou de disco, Chico Buarque, exigia sentar na poltrona e ler Clarice com um cigarro entre os dedos. Mulher, você vai gostar, tô levando uns amigos pra conversar. E depois de tudo isso o que pede é botar Cartola, porque mesmo com samba chega a hora inadiável de se angustiar na varanda, com o pôr-do-sol a ouvir a última melodia do dia. Ouça-me bem amor, preste atenção, o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos, tão mesquinho. Vai reduzir as ilusões a pó...

domingo, 16 de outubro de 2011

blues

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Começava devagar.
Saboreava o gosto puro de cada nota com a paciência de um meticuloso em busca da iluminação. A iluminação musical. E quando pensava nisso o calor ia subindo e emanava pelos poros... e então as notas exigiam amor e eram tocadas como mulheres...ia subindo....subindo...até atingir o pico, a libertação clássica de tudo o que se prende, era uma viagem mental e corporal, dedilhava com a mesma rapidez com que o suor escorria da sua testa, agora envergada, tentando alcançar as notas mais profundas da composição que era antes de tudo sua própria alma que ele precisava cavar cada vez mais fundo até encontrar aquilo que todos passam a vida procurando aquilo que as fazem perder o ar e o chão até se sentirem caindo em um abismo de total compreensão dos sentidos onde o mínimo toque de pele arrepia a espinha enquanto tudo isso é engolfado pelo som febril que nasceu nas ruas e nos becos onde se encontram a mais sincera e profunda arte já feita porque representa os olhos da alma boêmia alma essa mesma alma que agora se enche de iluminação por ter enfim encontrado sua sintonia com as notas musicas expelidas agora em decrescente sensações...que vão se rebaixando...tornando-se inaudíveis...mas totalmente sensitivas...o som do mais rele ser humano pisando nessa superfície fria...quando por dentro está cultivando calor...e tudo termina na última nota, angustiada, por onde terminam todos os fins existentes.....
 

lacrônico, o espaço das crônicas. © 2010

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