sexta-feira, 27 de abril de 2012

o gosto desmedido

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A hora que o trem passar, eu vou estar ali a milímetros do abismo da plataforma só pra sentir o frio de ansiedade e o vento nos cabelos e o corpo ameaçar ir para trás mas a força excitante do medo paralisá-lo na mesma posição cambaleante. E quando o trem abrir as portas, antes de entrar vou olhar o vão no chão e sentir aquela ansiedade novamente de quase cair no abismo e talvez até ameace um passo em falso pra fazer valer a pena entrar na locomotiva e sair da segurança estática da plataforma, sempre apática, sempre estática... E a loucura que corre pelos trilhos também corre no meu sangue e eu compartilho com você pelos poros cada vez que você me toca no exato instante em que morremos para renascermos logo em seguida, aliviados. A vida é um trem, um trem azul.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

sobre um sonho:

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Era o caos, a verdadeira desordem da existência. O asfalto rachava-se ao meio e era possível ver o magma da cor do inferno. As milhares de pessoas não seguiam mais as leis inconscientes, agora vagavam sem rumo e avançavam por lugares antes proibidos. O céu - não sei como era o céu - porque todos olhavam o chão, sempre tão resguardado e de repente tão exposto, aberto como uma ferida. Como eram as entranhas da Terra? Os que não tinham nada a perder tentavam ganhar: inúmeras barracas espalhadas ao longo das calçadas já quebradas, entupidas de pequenos produtos sem utilidade, ofertavam apenas no silêncio. Já não era preciso gritar, já não era preciso falar, era um desespero mudo. Como quando o medo cala a voz. E alguns tentavam levar aquele dia apocalíptico como se fosse apenas mais um dia comum. Era meu pai, que andava ao meu lado despreocupado e em paz, sem o anseio irracional do fim. Carregava três filmes clássicos em uma mão, "para vermos mais tarde", e com a outra me guiava por entre a multidão que não tinha nada de turista. Eu voltava os meus olhos desesperados e ele me devolvia os seus azuis calmos, por detrás dos óculos. E quando eu via o inferno debaixo da terra, eu apertava sua mão com força, e ele não me dizia nada porque não precisava ser dito...

terça-feira, 10 de abril de 2012

desesperança

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Disseram-lhe desde muito criança que trevo de quatro folhas dava sorte. Passou muito tempo procurando no meio do asfalto, no meio da grama, na moita e no chão. No dia que achou, fez do trevo de quatro folhas três, duas, uma, nenhuma folha e só uma minúscula haste, que jogou no chão e continuou a vida.
 

lacrônico, o espaço das crônicas. © 2010

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