sexta-feira, 20 de abril de 2012

sobre um sonho:

Era o caos, a verdadeira desordem da existência. O asfalto rachava-se ao meio e era possível ver o magma da cor do inferno. As milhares de pessoas não seguiam mais as leis inconscientes, agora vagavam sem rumo e avançavam por lugares antes proibidos. O céu - não sei como era o céu - porque todos olhavam o chão, sempre tão resguardado e de repente tão exposto, aberto como uma ferida. Como eram as entranhas da Terra? Os que não tinham nada a perder tentavam ganhar: inúmeras barracas espalhadas ao longo das calçadas já quebradas, entupidas de pequenos produtos sem utilidade, ofertavam apenas no silêncio. Já não era preciso gritar, já não era preciso falar, era um desespero mudo. Como quando o medo cala a voz. E alguns tentavam levar aquele dia apocalíptico como se fosse apenas mais um dia comum. Era meu pai, que andava ao meu lado despreocupado e em paz, sem o anseio irracional do fim. Carregava três filmes clássicos em uma mão, "para vermos mais tarde", e com a outra me guiava por entre a multidão que não tinha nada de turista. Eu voltava os meus olhos desesperados e ele me devolvia os seus azuis calmos, por detrás dos óculos. E quando eu via o inferno debaixo da terra, eu apertava sua mão com força, e ele não me dizia nada porque não precisava ser dito...

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