sábado, 17 de março de 2012

foi cinematográfico

À meia-luz não foi possível vislumbrá-la de todo, mas o andar vagaroso, a maneira delicada com que subiu as escadas sutilmente iluminadas do cinema e a pequena bolsa a tiracolo completaram a absoluta solidão daquela senhora. De certa forma, se estivesse acompanhada de alguma velha amiga e ambas subissem delicadas as escadas, seria um compasso em conjunto e a tristeza do isolamento já não teria mais evidência. Poderia se supor, logicamente, que a decisão de ir ao cinema e a compra dos ingressos não caberia apenas a uma pessoa, mas às duas amigas, que conversariam sérias na fila do guichê. Entretanto, eliminando-se a segunda pessoa da imaginária situação, o que sobrou à senhora é - e da qual não é possível fugir - a solidão, esta real, curiosamente chamativa quando ela subiu devagar as escadas daquele cinema. E quando as luzes acenderam, decretando o final do filme, foi a sua silhueta que partiu após os créditos, deixando atrás de si seu rastro de aura.




"O conceito benjaminiano de aura designa o fascínio concentrado e melancólico que determinada coisa assume no instante do seu desaparecimento".

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lacrônico, o espaço das crônicas. © 2010

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