quinta-feira, 5 de agosto de 2010

"a vida é um jogo"

O menino estava parado no corredor, com os olhos vidrados. Aos poucos foram juntando lágrimas. Seus joelhos tremendo, os braços fracos. Andou pelas lojas novamente para procurar melhor. Nada. Sentou no banco da galeria e ali ficou, de cabeça baixa, chorando baixinho, para ninguém perceber. Tinha medo de gente grande.

Uma garota viu o menino lá, já há um tempo, sozinho, de cabeça baixa. Viu que ele entrava nas lojas e voltava para o banco, várias vezes. Decidiu ir conversar com o garoto.

- Oi. O que aconteceu? Eu vi que você entrou nas lojas procurando alguma coisa...

O menino levantou os olhos vermelhos de choro.

- Perdi minha mãe.

A garota ficou com olhos de pena.

- Ah...mas você vai achar sua mãe, você vai ver.

Ele pensou que nunca mais veria sua mãe.

- Ela vai voltar aqui para te procurar, fica calmo.

Ele pensou em como voltaria para casa.

- Posso fazer companhia para você até sua mãe chegar?

Ele acenou que sim. E pensou quão longe sua mãe deveria estar.

- Não precisa ficar assim, vai ver como vai ficar tudo bem.

Ele pensou quanto tempo teria que esperar.

- Então...qual seu nome?

Ele pensou na sua mãe chamando seu nome.

- Rafael.

- Ah, que legal. Quantos anos você tem, Rafael?

Ele pensou no seu bolo de aniversário com a vela 8.

- Oito anos.

- Oito anos...já é um rapazinho hein? E o que gosta de fazer?

Ele pensou nos seus amigos jogando videogame. E deu um sorriso. O Neto jogava muito mal, nunca conseguia passar aquela fase.

- Eu gosto de jogar videogame com meus amigos.

- E você joga bem?

Ele se lembrou quando venceu a última fase do jogo, seus amigos nunca conseguiram.

- Eu jogo. Consegui vencer a última fase, sabia? Era difícil.

- Uau. Então pensa que você está num videogame. Sua mãe é o chefão. O chefão sempre encontra com o mocinho no jogo não é? Então. Sua mãe vai vir te encontrar.

Ele pensou que essa garota era legal. Depois se lembrou que tinha um maço de cartas no bolso.

- Olha o que eu tenho aqui, trouxe meu baralho. Quer jogar?

- Vamos jogar!

Ficaram no banco, jogando cartas. Uma mulher gritou:

- Alguém sabe do meu filho? Tô procurando meu filho!

O menino reconheceu a voz da mãe. Achou a mãe! Aliviado, foi correndo abraçá-la. A mãe, uma mulher grande e nervosa, bufou de raiva. Pegou o menino pelo braço, deu um tapa.

- Não separa mais de mim, Rafael! Onde já se viu! Procurei que nem doida atrás de você, menino.

Foram embora, com o menino assustado. A garota ficou perplexa. A mãe era mesmo o chefão.

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