Foi num desses
dias quaisquer que Maria acordou de um sonho que a perturbou. Havia sonhado com
um homem, charmoso, alto, vestido de esporte fino, de cabelo e barba ralos, e
um sorriso encantador. No sonho, ele era seu parceiro, do tipo romântico e
educado, atraente e excitante. Maria sentia cócegas na barriga só de olhar para
ele, estava extasiada! Vivia a melhor de suas fantasias quando o sonoro barulho
do telefone a interrompeu. Era seu marido.
- Que é, Carlos
Alberto?
- Querida, estou
no mercado, precisa de alguma coisa pra cozinha?
- Não, não
precisa.
Nunca chamava o
Carlos Alberto pelo nome inteiro, era
sempre “bem”. Estava irritada por ter sido interrompida de seu sonho com aquele
homem espetacular, que estava prestes a enlaçá-la e dar-lhe um beijo! “Meu
Deus, espero que isso não vá longe demais...”.
Dois dias
depois, Maria sonhou novamente com o homem. Estavam na praia, molhados da água,
ela deitada na areia e ele ao seu lado, estirado na toalha, de sunga, o corpo
bem torneado brilhando ao sol. Acordou assustada e ofegante com tamanha visão
divina.
De manhã, Maria
tomou o café silenciosa. Observava Carlos Alberto e suas entradas no cabelo,
ficaria calvo dentro de alguns anos. A barriga esticava a camisa social e vez
por outra escapava no espaço que se abria entre os botões. Afora alguns pelos
do peito que saltavam para fora da camisa. Maria suspirou fundo, e Carlos
Alberto não fez nenhum comentário.
Chegava à noite
e Maria ansiava a hora de dormir. Logo depois da janta, esboçava um bocejo e
falava que era muito sono, cansaço e coisa e tal, ia dormir. Adormecia num
instante e sonhava com o dito cujo. O homem misterioso ainda não lhe tinha dito
o nome, mas continuavam a viver uma vida conjugal. Dessa vez, passeavam por um
parque, de mãos dadas. Pararam em frente a uma fonte, o vento trazia um pouco
da água para refrescar, ele a abraçou e a beijou. Maria não se continha de
alegria, beijou com fervor aqueles lábios macios e estavam assim agarrados,
quando Carlos Alberto, coitado, na profunda ignorância de seu sono, roncou
alto. De um pulo, Maria abriu os olhos.
- Carlos
Alberto! – gritou.
Carlos Alberto
acordou também de um pulo.
- Você está
roncando! – rosnou.
- Perdão –
atordoado, não sabia o que fazer.
- Não consigo
dormir. Preciso acordar cedo! Vai dormir no sofá! Sem reclamar!
O sono era tal
que Carlos Alberto foi, ele e a culpa, dormir no sofá. Maria adormeceu
novamente, mas aquela noite o homem não voltou a aparecer.
Carlos Alberto
passou a dormir no sofá, já que Maria quase não conversava com ele, somente o
necessário. Achou que o culpava pelo ronco daquela noite, e Maria não podia era
olhar para ele sem pensar no homem de seu sonho. Não reconhecia mais o marido.
Uma noite, o
sonho que tanto desejava enfim aconteceu. Maria sonhou que vestia uma fina camisola de
seda e andava de pés descalços ao longo de um quarto enorme. O homem misterioso
aparecia, vestindo apenas uma calça, e eles passavam uma noite mágica de amor.
Maria viveu o sonho até o fim, quando acordou naturalmente. O coração batia
acelerado. Estava assustada. Olhou para seu quarto e não sabia onde estava.
Carlos Alberto entrou no quarto nesse exato instante e, percebendo a expressão
atônita da mulher, entregou os pontos:
- Qual o nome
dele?
- De quem?
- Do seu
amante.
Maria piscou os
olhos, silenciosa. Algumas lágrimas rolaram pelo rosto enquanto bradava sem
fôlego:
- Eu ainda não
sei!
E então o
casamento acabou. Não dava mais para continuar. O amante continuava a
visitar-lhe nos sonhos...
1 opiniões:
Tadinho do Carlos Alberto... haha
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