quarta-feira, 13 de março de 2013

excêntrico Chico

Quando dá meia-noite, Chico se levanta, tropeçando em seus próprios pés, e vai até a porta da sala. Destranca e sai de sua casa ainda de pijamas, fechando a porta atrás de si. Depois, parado na soleira, bate na porta de sua casa, como se fosse um visitante. Bate uma, duas, três, quatro vezes. Chico faz isso religiosamente, todos os dias. Seria sonambulismo se ele não estivesse consciente nos momentos de sua fuga banal. Chico se vê como um visitante, uma companhia para suas noites solitárias e sente-se ingenuamente feliz com isso: visita a si mesmo. Abre a porta para si e sorri satisfeito pela recepção tão agradável de seu eu dissociado. Depois de todo esse processo, Chico volta a dormir sentindo-se menos solitário pela visita recebida durante a noite de sua própria visita. Quando acorda pela manhã, não vê ninguém. O sol não ilumina outra pessoa senão ele, é sua sombra que vê pela casa durante todo o dia e à noite, já fatigado de tantos vultos silenciosos e incomunicáveis, Chico se deita à espera da visita que vem sempre na hora dúbia. É a sua tentativa de ao menos tornar sua noite de sono seguramente tranquila.

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lacrônico, o espaço das crônicas. © 2010

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