domingo, 27 de março de 2011

vadiagem

É noite e a sarjeta cheira a lixo.
Lixo, cigarro e espetinho de carne.
Você nunca deseja fazer parte disso tudo, mas sem querer, isso se torna parte de você.
A prostituta que não sente frio na esquina, o dono da barraquinha velha e suja de pastel, o cobrador do ônibus que circula a uma da manhã, nenhum desses indivíduos renegados é diferente de você ou do engravatado desinteressante com quem dividimos o mesmo meio-fio todos os dias de manhã.

Amarguradamente, segurando-se onde quer que valha para não cair com as curvas do ônibus. Uma mão que encosta, um cabelo que esvoaça e você se afasta, como que contaminado. Rejeitar o toque faz parte do seu dia, como se já não importasse também suas passadas largas de quem vai e não sabe pra onde, sua cara fechada como se o sol lhe batesse constantemente nos olhos mesmo à noite ou seu bom dia contido pela manhã.

E é pensando nisso tudo que volta para a casa de madrugada. Não importa a hora, a vida imunda ainda pulsa pelos becos, fétida, com suas mil promessas vãs de liberdade fugidia.
A noite é o mundo dos rejeitados.

5 opiniões:

Nathália disse...

São Paulo puro esse texto

Tais G. Faraco disse...

São Paulo rende muitos textos...

marcos assis disse...

todo dia eu passo perto de um ponto de ônibus que cheira a churrasquinho. isso só é mais são paulo que outras cidades, porque são paulo são todas cidades...
já leu roberto piva?

Mateus Lima disse...

"sua cara fechada como se o sol lhe batesse constantemente nos olhos mesmo à noite"

adorei isso, vou usar, hahahaha!

Nathália disse...

vou denunciar seu blog por falta de atualização

 

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