É noite e a sarjeta cheira a lixo.
Lixo, cigarro e espetinho de carne.
Você nunca deseja fazer parte disso tudo, mas sem querer, isso se torna parte de você.
A prostituta que não sente frio na esquina, o dono da barraquinha velha e suja de pastel, o cobrador do ônibus que circula a uma da manhã, nenhum desses indivíduos renegados é diferente de você ou do engravatado desinteressante com quem dividimos o mesmo meio-fio todos os dias de manhã.
Amarguradamente, segurando-se onde quer que valha para não cair com as curvas do ônibus. Uma mão que encosta, um cabelo que esvoaça e você se afasta, como que contaminado. Rejeitar o toque faz parte do seu dia, como se já não importasse também suas passadas largas de quem vai e não sabe pra onde, sua cara fechada como se o sol lhe batesse constantemente nos olhos mesmo à noite ou seu bom dia contido pela manhã.
E é pensando nisso tudo que volta para a casa de madrugada. Não importa a hora, a vida imunda ainda pulsa pelos becos, fétida, com suas mil promessas vãs de liberdade fugidia.
A noite é o mundo dos rejeitados.
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5 opiniões:
São Paulo puro esse texto
São Paulo rende muitos textos...
todo dia eu passo perto de um ponto de ônibus que cheira a churrasquinho. isso só é mais são paulo que outras cidades, porque são paulo são todas cidades...
já leu roberto piva?
"sua cara fechada como se o sol lhe batesse constantemente nos olhos mesmo à noite"
adorei isso, vou usar, hahahaha!
vou denunciar seu blog por falta de atualização
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