quarta-feira, 17 de abril de 2013

êta, vidinha mais ou menos!

A casinha na beirinha do morro ficava sempre de janelas escancaradas, como grandes olhos abertos para a vida. O vento fresco da manhã circulava trazendo os sussurros de bom dia das árvores e dos passarinhos. Acontecia sempre de acordar com um samba ressoante pela casa e o bem-te-vi que saracoteava no batente da janela todo dia atrás de migalhas de pão até arriscava alguns passinhos de dança. Gostava de aparecer por ali e se o samba acabasse antes, ele não ficava triste não, sinfoniava um allegro. Passarinho desses não se prende na gaiola, deixa é solto para que possa ir cantar em outras janelas, e se voltar é por vontade própria...No fim da tarde, aparecia novamente para dizer adeus e que logo pela manhã voltaria. Se juntava aos seus e voava longe, longe, formando lindos desenhos pelo céu. As árvores sacolejavam seus últimos espasmos, as fracas folhas caíam ao chão e se espalhavam pela terra, de onde renasceriam assim que tudo tivesse seu tempo. A dama-da-noite começava a se embelezar para seu encontro com a lua e o seu perfume inundaria a tudo e a todos de puro amor. A casinha ainda não fechava suas pestanas, pois à noite recebia novos visitantes: havia as corujas, sérias e formosas, e para elas cabia ouvir lindíssimas sonatas para piano. Eram mais ressentidas que os pássaros: se a música acabava, iam embora com um pio magoado. Mas também sempre voltavam. E quando o céu estava cheio de olhos piscantes, as janelas se fechavam e tudo se preparava para dormir no melodioso silêncio da eternidade.

2 opiniões:

José Claudio Faraco disse...

Muito bonito e com ares poéticos. Estou tentando ver se consigo deixar um comentário aqui, filhota. Vamos ver.

José Claudio Faraco disse...

Ah, sim! Parece que consegui, não é?
Agora vamos em frente.
Beijos, filhota. Não deixe nunca de escrever.

 

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