domingo, 24 de julho de 2011

o nó de cada dia

É um desejo de negar tudo e voltar ao estado primitivo da consciência.

É um pessimismo que alimenta quase como o sangue te faz vivo. Um pessimismo não de viver, mas da vida como se faz até aqui.

A vida dos chicletes, pequenas gomas de petróleo que alimentam os olhos e ocupam a boca, esta mesma, que se preocupa em mascar corantes e não soltar palavras. Essa vida que virou a dos grandes capitais - vilões ou mocinhos? - felizes por nos brindar com um copo de café com açúcar branco logo de manhã. Branco por estética: a criação da noção de pureza com soda cáustica. Um verso como este parecido com uma notícia dos telejornais. Frases curtas, ponto final aqui, dois pontos ali. Afinal, o cachorro da titia também precisa entender o noticiário.
O ser vivo moderno é empregado se pagou para outros lhe ensinarem coisas que poderia aprender sozinho. Mas autodidata - o que é autodidata? - é uma palavra quase extinta do vocabulário daqueles que estão atrás das mesas de mogno. O ser vivo é pago para dizer que uma planta não é um outro ser vivo - curiosamente semelhante - mas um combustível, um alimento para seus grandes filhos de aço, tão crianças que cospem os restos no céu.

Livros de monges, histórias de Jesus e canções natalinas são última tendência. Evocam lá no fundo aquele sonho lúdico, já empoeirado, de belas montanhas, casinhas de madeira e existência pacífica. Fios, aço, ferro, fibra ótica, álcool, petróleo, glutamato de sódio são palavras que você queria esquecer para sempre.
Sabe o impossível? Ele existe. Ele existe, e vive dentro de mim.
 

lacrônico, o espaço das crônicas. © 2010

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