terça-feira, 24 de novembro de 2015

um quadro para Raskólnikov

Que sensação a de se encontrar com uma figura que julgava ter criado apenas na imaginação! Quando havia lido Crime e Castigo imaginava Raskólnikov em um quarto de teto afunilado, paredes marrons, ambientação um pouco escura, não sei se havia pensado em alguma janela, mas certamente a cama ficava encostada à parede. O chão poderia ser de assoalho, aquela madeira antiga que levanta muito pó. Mas imaginava sobretudo o teto. Não sei dizer exatamente se o que eu imaginava derivava da descrição do livro ou era a minha mente correndo solta - afinal, faz anos que li, mas o barato da leitura é justamente esse. Tampouco consigo explicar como é que a memória guarda essas ambientações imaginárias que fazemos com cada livro que lemos!
Mas eis que encontro sem querer essa imagem em algum canto da internet:



Der arme Poet (O poeta pobre) é um quadro do séc. XIX do pintor alemão Carl Spitzweg - e parece que um quadro bastante popular e adorado entre os alemães. Não conhecia a imagem e o que me chamou a atenção de imediato foi ter notado uma semelhança assustadora com a ideia que eu havia construído na imaginação do quarto de Raskólnikov, exceto talvez pelo tamanho do aposento, que no quadro está pequeno e apertado demais, em relação a um quarto mais espaçoso, porém vazio, que eu havia dado ao personagem. Para ficar ainda mais parecido com o que eu figurei, sabe-se lá de onde, eu teria que inverter a imagem:





E assim a minha imaginação sente-se quase invadida em segredo! Que sensação diferente...
 

lacrônico, o espaço das crônicas. © 2010

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