Eram quase seis horas da tarde de
verão. Com um pulo ela encarapitou-se na grade da varanda e ameaçou pular.
- Um passo a mais e eu me jogo! –
bradou para o namorado, parado na soleira da porta e totalmente surpreso com a loucura.
- Mas vai pular por quê?! O que
aconteceu? – essa era boa, a namorada ameaçar pular do segundo andar e ele nem
desconfiar do motivo.
- Você não me ama! – e tirou um
pé de apoio.
- Pare com isso! Sobe de volta e
a gente conversa! Não cometa essa loucura, você sabe que não tem sentido algum!
- Você nunca me amou! – e soltou
dois dedos.
Ele estava apavorado. Dava um
passo e ela pulava ou ficava parado berrando aos ventos?
- Não faça isso!
O relógio da igreja bateu seis
horas. Movidas pelo final do expediente e pela curiosidade, as pessoas começaram a se aproximar. Uma a uma, iam se amontoando nas esquinas, cochichando uns com os outros o que estavam vendo. Depois foi a vez dos moleques surgirem sabe-se lá de onde e correrem para debaixo da varanda da moça. Ela, felizmente para os marmanjos, usava vestido.
- Dona Neusa, olha o que a Tereza
está fazendo! Tem cabimento isso? – esbravejou o rapaz para uma das senhoras paradas na
esquina da rua.
- Minha nossa Senhora, ela está
ficando louca! Não faz isso, minha filha, do segundo andar no máximo você
quebra as pernas e aí fica inválida, não é pior? – respondeu a velha, sacudindo
sua bengala, ao que foi acompanhada por muitas outras que brandiam suas bengalas.
- Foi o que eu disse, dona Neusa,
mas ela não me escuta.
Tereza, enganchada na grade da
varanda, olhou-o estupefata. O que as outras pessoas tinham a ver com isso? Era para ser um show só dele.
O rapaz percebeu que a vizinha também se
aproximava para observar o ocorrido e ele a chamou.
- Veja a senhora o que a Tereza
está fazendo! Ameaça pular porque não a amo. Diz, senhor Benedito, não fui à
sua loja comprar flores outro dia para presenteá-la?
- Corretíssimo rapaz, e não há
nada mais amoroso do que presentear com flores – concordou o marido da vizinha.
As pessoas que ouviam a conversa embaixo, na rua, também concordaram.
- Meu jovem, conte a ela do meu
marido! Certamente com o odioso exemplo ela vai mudar de ideia!
- Saia daí, Tereza, sua mãe não
vai gostar!
- Tereza, estou ligando para seu
pai! O velho vai infartar!
- Pule logo, se é para duvidar de
rapaz tão generoso!
- Desse jeito vamos achar que
quem não ama é a senhora! – e riram-se todos.
Cansada de tanta zombaria, Tereza
gritou:
- Me deixem em paz! – e olhou com
olhos desconsolados para o namorado - Por que é que você tinha que fazer isso?
- Tereza, meu amor, você também
decide pular da varanda às seis horas da tarde?