A Sra. Silva correu para contar ao marido:
- Deu positivo! Deu positivo! Estou grávida!
Felicíssimos, os dois. Não se cabiam de alegria. Nem sabiam o que fazer. Compramos já o enxoval? Que cor? Que escola matricular a criança? Precisamos guardar dinheiro para quando for para o exterior? E a faculdade? E o casamento?
A vida do bebê passou diante de seus olhos em uma fração de segundo. Era uma boa notícia, mas não seria fácil criar um filho.
A primeira preocupação, no entanto, foi a mais simples, mas talvez a que poderia trazer mais conseqüências definitivas: a alimentação.
O que uma grávida tem que comer para não parir um bebê gordo e sonolento? A Sra. Silva foi junto com o marido à uma especialista e saiu de lá franzindo o cenho:
- Nunca me senti tão brasileira. Ter que ficar comendo verde e amarelo... Sei não, meu bem, vai ser difícil para mim. Muito difícil.
O marido respondeu com ar grave:
- Para mim também não está fácil. Tenho que comer essas coisas verdes todas com você. Ah, os lanches...Mas temos que pensar no bebê, é pelo bem dele. Tudo é ele agora.
E assim os meses se passaram, a barriga crescendo cada vez mais. A Sra. Silva já não agüentava mais e um dia pediu ao marido, toda dengosa:
- Meu bem... Podemos ir ao McDonald’s? Só dessa vez, vai...
Ele limitou-se a olhá-la, com desdém.
- Por favor, desejo de grávida.
E a frase surtiu efeito como toda grávida sabe fazer.
A contragosto, o marido levou-a ao McDonald’s. “Mas será a última vez”, pediu ele, “não quero meu filho com cara de Big Mac quando nascer”. Para agradar o marido, a Sra. Silva pediu a opção mais saudável do cardápio: um McChicken.
- Olha, querido, é frango grelhado, tem menos gordura. Ah, senhor, o combo acompanha um refrigerante de 500ml tá?
A primeira mordida trouxe um êxtase danado, tamanho bem-estar aquela comida dava à ela. O bebê até chutou. “De felicidade”, supôs ela. Devorou em pouco tempo. Pelo menos o filho não ia nascer com cara de Big Mac.
Porém, a Sra. Silva não esperava que o primeiro lanche em muitos meses trouxesse uma dependência muito forte. Ela não podia ver as cores vermelha e amarela juntas que seu corpo já comichava. Um dia, em uma dessas vontades, coçou a bochecha. “Agora meu filho vai ter uma marca de nascença em forma de Mc Donald’s”, pensou aflita. Era o fim.
A solução encontrada foi muito simples. Comeu escondida do marido, assim evitava os comichões e as marcas de nascenças que poderia gerar com esse desejo todo. Assim fez até o fim da gravidez, sem nunca gerar qualquer desconfiança.
No nono mês da gestação, a Sra. Silva foi ao hospital para o parto. Voltou para a casa com um lindo garotinho nos braços. Rechonchudo, com uma pinta engraçada na bochecha.
- Que pinta é essa? – observou o marido – Parece uma letra...
- Ah, vai ver o bebê adivinhou a letra do nome dele...
- É, vai saber...
E o assunto morreu.
Muito tempo depois, o pai estava brincando com o filho quando o pequeno falou:
- Méquiti!
O pai quase caiu para trás.
- Meu bem! Ele falou! A primeira palavra, vem ouvir!
A Sra. Silva veio correndo, emocionada.
- Fale de novo para a mamãe escutar, filho.
- Méquiti!
Os dois se entreolharam. O que será que era isso?
- Poxa, esperava um “papá” da primeira vez – suspirou o marido.
- Com o tempo ele aprende, se acalme.
- Méquiti! – gritou o bebê.
- O que, filho?
- Méquiti! – e começou a chorar.
- Meu Deus, o que está acontecendo?
O pai ficou em silêncio. Aí disse, soturno:
- Querida.
- Sim?
E o bebê chorava.
- Você entendeu o que ele falou?
- Não... você entendeu?
- Entendi.
Silêncio. E terminou de dizer, grave:
- Ele disse McChicken.
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